segunda-feira, agosto 06, 2007

O QUE MAIS VAMOS ESPERAR ACONTECER? VAMOS DAR UM BASTA...

Mordomia nas alturas

Diego Escosteguy

Nos últimos dez meses, os brasileiros conheceram o inferno nos aeroportos. Filas, atrasos e cancelamentos de vôo viraram rotina. Tumultos, desrespeito e humilhação de passageiros transformaram uma simples viagem em aventura deletéria. Na semana passada, o presidente Lula disse que o governo não sabia da gravidade dos problemas do setor aéreo.
Descobriu isso, ao que tudo indica, somente depois do acidente com o avião da TAM que matou 199 pessoas.
Com algum esforço, pode-se entender por quê. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o órgão federal criado para fiscalizar o setor, não deve ter contado nada ao presidente. E nem poderia.
Os diretores da Anac não enfrentam filas, não precisam fazer check-in, nunca têm o nome incluído em overbooking e o mais interessante: apesar do tratamento vip, eles também não desembolsam um único tostão para viajar. Isso mesmo: os diretores da Anac, que são pagos pelo contribuinte para fiscalizar as companhias aéreas, viajam de graça – e viajam muito .

Levantamento feito pela agência entre julho de 2006 e fevereiro deste ano revela que apenas o presidente da Anac e seus quatro diretores voaram nada menos que 288 vezes usando bilhetes de cortesia oferecidos pelas empresas que deveriam fiscalizar.

A mordomia aérea, oficialmente, é toda usada para o cumprimento do dever profissional. Os diretores teriam cruzado os céus do Brasil, a fim de fiscalizar aeroportos e participar de reuniões de trabalho. Seria mesmo?
O campeão de viagens é o diretor baiano Leur Lomanto. Sozinho, ele requisitou 98 passagens às companhias para realizar "inspeções" nos aeroportos – registrando uma incrível média de três vôos por semana.

O curioso é que a maioria das "inspeções" do diretor ocorreu no aeroporto de Salvador, para onde ele solicitou nada menos que 39 bilhetes. Diligente, Lomanto, ao que parece, não se importava nem com as dificuldades de calendário.

Uma de suas "inspeções" em Salvador foi agendada para o dia 29 de dezembro, uma sexta-feira, às vésperas do feriado de Ano-Novo.

Nesse período, os passageiros comuns enfrentavam um dos piores momentos do caos. Lomanto não. Ele não precisou enfrentar fila nem teve, ao que se sabe, problema algum para pegar seu cartão de embarque.

Nem mesmo no retorno que ocorreu, é claro, depois de uma esticadinha nas comemorações. Afinal de contas, ninguém é de ferro.

O presidente da agência, o gaúcho Milton Zuanazzi, é outro que literalmente bota a mão na massa. Criticado por entender mais de turismo, sua especialidade, do que de aviação, ele requisitou às companhias aéreas 69 passagens para "inspeções e reuniões", quinze delas ocorridas em Porto Alegre. Indagado pelos parlamentares da CPI do caos aéreo, Zuanazzi justificou a parceria como uma necessidade, já que a Anac não tinha orçamento para comprar as passagens.

Já o paulista Josef Barat – aquele diretor que foi dar uma palestra nos Estados Unidos à custa da TAM e que antes de assumir o cargo na Anac também comandava uma empresa que prestava serviços de consultoria às companhias aéreas – é realmente um viajante nato .

Incluindo o passeio americano, ele voou 51 vezes nas asas da companhia, a maioria, 28 trechos, para São Paulo. Barat não vê nada de mais nessa relação amistosa entre fiscais e fiscalizados.

Chegou a dizer que é assim que funciona em outros órgãos do governo, como o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Os dois órgãos desmentiram o diretor.

A diretora paulista Denise Abreu, aquela que tem um irmão que presta serviços à TAM, é um caso que merece atenção. Ela requisitou 69 passagens no período de oito meses .

Embora também não faça parte de suas atribuições profissionais, a maioria das viagens da diretora foi justificada como realização de "inspeções".

Denise Abreu não recusa uma mordomia oferecida pela turma que ela deveria estar empenhada em fiscalizar.

No ano passado, foi convidada pela Gol para participar de uma festa em Seattle, nos Estados Unidos, para comemorar a incorporação pela empresa de um novo modelo de avião.

Era um vôo literalmente para poucos convidados.

O Boeing da Gol decolou do Brasil com apenas cinco pessoas a bordo: Denise Abreu mais quatro diretores da Gol.

A volta também foi bancada pela empresa. Jorge Luiz Velozo é o único dos diretores da Anac com perfil técnico. Porém, se observado apenas o critério dos seus colegas da Anac, ele é o que menos trabalhou. Usou os serviços gratuitos das empresas uma única vez. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, aguardou durante toda a semana a renúncia voluntária dos diretores da Anac. Em pé.

Fábio Motta/AE
ESSA GENTE TEM QUE SER POSTA EM SEU DEVIDO LUGAR.
Jobim: a renúncia da turma não veio.

Nenhum comentário: